domingo, 26 de abril de 2009

Esquecer e Perdoar

“Caminhavam pelo deserto e reconheceram-se de longe, porque eram ambos muito altos. Os irmãos sentaram-se na terra, fizeram uma fogueira e comeram. Guardavam silêncio, à maneira das pessoas cansadas, quando declina o dia. No céu aparecia uma ou outra estrela, que ainda não recebera nome. À luz das chamas, Caim reparou na marca da pedra na testa de Abel e deixou cair o pão que ia levar à boca, e pediu que lhe fosse perdoado o seu crime. Abel respondeu: tu mataste-me ou fui eu que te matei? Já não me lembro; aqui estamos juntos como dantes. Agora sei que, na verdade, me perdoaste – disse Caim –, porque esquecer é perdoar. Eu tratarei também de esquecer.”

J. L. Borges; O Elogio da Sombra

sábado, 25 de abril de 2009

A Obra de Deus

Naqueles dias,
levantou-se um homem no Sinédrio,
um fariseu chamado Gamaliel,
doutor da Lei venerado por todo o povo,
e mandou sair os Apóstolos por uns momentos.
Depois disse:
«Israelitas,
tende cuidado com o que ides fazer a estes homens.
Há tempos, apareceu Teudas, que dizia ser alguém,
e seguiram-no cerca de quatrocentos homens.
Ele foi liquidado
e todos os seus partidários foram destroçados e reduzidos a nada.
Depois dele, nos dias do recenseamento,
apareceu Judas, o Galileu,
que arrastou o povo atrás de si.
Também ele pereceu
e todos os seus partidários foram dispersos.
Agora vou dar-vos um conselho:
Não vos metais com estes homens: deixai-os.
Porque se esta iniciativa, ou esta obra, vem dos homens,
acabará por si mesma.
Mas se vem de Deus, não podereis destuí-la
e correis o risco de lutar contra Deus».
Eles aceitaram o seu conselho.
Chamaram de novo os Apóstolos à sua presença
e, depois de os terem mandado açoitar,
proibiram-nos falar no nome de Jesus
e soltaram-nos.
Os Apóstolos saíram da presença do Sinédrio cheios de alegria,
por terem merecido serem ultrajados
por causa do nome de Jesus.
E todos os dias, no templo e nas casas,
não cessavam de ensinar e anunciar a boa nova
de que Jesus era o Messias.

Actos 5, 34-42

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Excerto da Mensagem de Bento XVI para o dia das Vocações

A vocação ao sacerdócio e à vida consagrada constitui um dom divino especial, que se insere no vasto projecto de amor e salvação que Deus tem para cada pessoa e para a humanidade inteira. O apóstolo Paulo – que recordamos de modo particular durante este Ano Paulino comemorativo dos dois mil anos do seu nascimento –, ao escrever aos Efésios, afirma: «Bendito seja o Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, que, do alto dos céus, nos abençoou com toda a espécie de bênçãos espirituais em Cristo. Foi assim que n’Ele nos escolheu antes da constituição do mundo, para sermos santos e imaculados diante dos seus olhos» (Ef 1, 3-4). Dentro da vocação universal à santidade, sobressai a peculiar iniciativa de Deus ter escolhido alguns para seguirem mais de perto o seu Filho Jesus Cristo tornando-se seus ministros e testemunhas privilegiadas. O divino Mestre chamou pessoalmente os Apóstolos «para andarem com Ele e para os enviar a pregar, com o poder de expulsar demónios» (Mc 3, 14-15); eles, por sua vez, agregaram a si mesmos outros discípulos, fiéis colaboradores no ministério missionário. E assim no decorrer dos séculos, respondendo à vocação do Senhor e dóceis à acção do Espírito Santo, fileiras inumeráveis de presbíteros e pessoas consagradas puseram-se ao serviço total do Evangelho na Igreja. Dêmos graças ao Senhor, que continua hoje também a convocar trabalhadores para a sua vinha. Se é verdade que, em algumas regiões, se regista uma preocupante carência de presbíteros e que não faltam dificuldades e obstáculos no caminho da Igreja, sustenta-nos a certeza inabalável de que esta é guiada firmemente nas sendas do tempo rumo à realização definitiva do Reino por Ele, o Senhor, que livremente escolhe e convida a segui-lo pessoas de qualquer cultura e idade, segundo os insondáveis desígnios do seu amor misericordioso.