Às vezes rezo
sou um cego e vejo
as palavras o reunir
das sombras
às vezes nada digo
estendo as mãos como uma concha
puro sinal da alma
a porta
que queria que batesses
tomasses um por um os meus refúgios
estes dedos
inquietos na ignorância
do fogo
pois que tempo abrigará
os anjos
e que dia erguerá todo o sol
que há nas dunas
por isso
às vezes chove quando rezo
às vezes quase neva
sobre o pão
José Tolentino Mendonça, “A noite abre os meus olhos”, 29.