domingo, 15 de fevereiro de 2009

Do Comentário sobre o Diatéssaron, de Santo Efrém, diácono

A Palavra de Deus, fonte inexaurível de vida

Que inteligência poderá penetrar uma só de vossas palavras, Senhor? Como sedentos a

beber de uma fonte, ali deixamos sempre mais do que aproveitamos. A palavra de Deus,

diante das diversas percepções dos discípulos, oferece múltiplas facetas. O Senhor

coloriu com muitos tons sua palavra. Assim, quem quiser conhecê-la, pode nela

contemplar aquilo que lhe agrada. Nela escondeu inúmeros tesouros, para que neles se

enriqueçam todos os que a eles se aplicarem.

A palavra de Deus é a árvore da vida a oferecer-te por todos os lados o fruto abençoado,

à semelhança do rochedo fendido no deserto que, por todo lado, jorrou a bebida

espiritual. Comiam, diz o Apóstolo, do alimento espiritual e bebiam da bebida

espiritual.

Se, portanto, alguém alcançar uma parcela desse tesouro, não pense que este seja o

único conteúdo desta palavra, mas considere que encontrou apenas uma porção do

muito nela contido. Se só esta parcela esteve a seu alcance, não diga que essa palavra

seja pobre e estéril, nem a despreze. Pelo contrário, visto que não pode abraçá-la

totalmente, dê graças por sua riqueza. Alegra-te por seres vencido, não te entristeças por

te ultrapassar. O sedento enche-se de gozo ao beber e não se aborrece por não poder

esgotar a fonte. Vença a fonte a tua sede, mas não vença a tua sede a fonte. Pois, se tua

sede se sacia sem que a fonte se esgote, quando estiveres novamente sedento, dela

poderás beber. Se, porém, saciada tua sede também se secasse a fonte, tua vitória

redundaria em mal.

Dá graças, então, pelo que recebeste. Pelo que ainda restou e transbordou não te

entristeças. Aquilo que recebeste e a que chegaste é a tua parte. O que sobrou é tua

herança. Se, por fraqueza tua, em uma hora não consegues entender, em outras horas, se

perseverares, poderás recebê-lo. Não te esforces, com maligna intenção, por beber de

um só trago aquilo que não pode ser tomado de uma vez. Não desistas, por indolência,

de tomá-lo aos poucos.

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