Lembro-me disto: o bispo tomou as minhas mãos trémulas nas suas mãos confiantes. Depois impuseram as mãos na minha cabeça, primeiro as do bispo, depois muitas dos padres que, por este gesto, me tornaram um deles. Pouco depois o bispo ungiu-as, e não poupou no óleo; cheiraram a crisma o dia todo.
Rapidamente as minhas mãos foram usadas para abraçar, estendidas para consagrar, expostas em súplica e postas a trabalhar na distribuição da comunhão. De seguida foram usadas para benzer filhos e pais, família e amigos, e estranhos também, que as agarravam e as beijavam porque se tinham tornado bênção.
(…) Ungiram bebés e santos moribundos, absolveram, confortaram, fortaleceram; benzeram casamentos e fecharam-se em oração a pedir ajuda durante reuniões infindáveis. (…)
Apontaram o caminho para o Céu e para a casa de banho. Apanharam lixo no parque de estacionamento e comida debaixo dos bancos da igreja. Dactilografaram orações dos fiéis no Sábado à tarde e cartas para o boletim paroquial às terças. Estas mãos viraram inúmeras páginas de breviários, leccionários, bíblias, memorandos, textos teológicos e espirituais, folhetos, jornais e relatórios de contas de escolas que, de tempos a tempos, não eram positivos como se esperava.
Entregaram alianças a noivos nervosos (…). Seguraram bolas de bingo e rifas vencedoras, documentos civis e religiosos, bênçãos apostólicas e carteiras perdidas, pratos de esparguete e lanternas quando disparou o alarme na igreja.
Estas mãos contaram hóstias e ofertórios, acenderam velas e deitaram incenso em turíbulos, passaram contas de rosário e fizeram o sinal da cruz com a custódia. Assinaram memorandos e petições, certificados e cartas, incluindo muitas a pedir dinheiro, demasiados cheques e muito poucos talões de depósito. Gesticularam loucamente em alturas quando as palavras me faltaram, ou se perderam, ou estavam na linguagem errada, ou não eram suficientemente claras para explicar um ponto que me parecia muito simples.
O seu toque acalmou os trémulos, parou os impetuosos, limpou as lágrimas, dispensou preocupações, até as minhas. Nas muitas vezes em que estava sem ideias e não sabia o que fazer, estas mãos apoiaram a minha cara e coçaram a minha cabeça.
Agora as minhas mãos estão gastas, com marcas e altos e calos. Devia pôr-lhes creme e dar-lhes descanso, recompensá-los pelo que já fizeram. Mas não o farei, não posso, ainda há tanto por fazer.
In The Tablet, 01.05.2010
Trad.: Filipe d'Avillez
© SNPC (trad.) | 31.05.10
Eu não tenho dedos nas mãos, mais tenho trinta e dois anos, alguns trabalhos feitos, por natureza humana as vezes me sinto cansado, mas como servo de Deus sinto vigor pra continuar até o fim.
ResponderEliminarainda há muito pra ser feito pelas minhas mãos.