quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Ingrina

"O grito da cigarra entre a tarde a seu cimo e o perfume do oregão invade a felicidade. Perdi a minha memória da morte da lacuna da perda do desastre. A omnipotência do sol rege a minha vida enquanto me recomeço em cada coisa. Por isso trouxe comigo o lírio da pequena praia. Ali se erguia intacta a coluna do primeiro dia - e vi o mar reflectido no seu primeiro espelho. Ingrina.
É esse o tempo a que regresso no perfume do oregão, no grito da cigarra, na omnipotência do sol. Os meus passos escutam o chão enquanto a alegria do encontro me desatera e sacia. O meu reino é meu como um vestido que me serve. E sobre a areia sobre a cal e sobre a pedra escrevo: nesta manhã eu recomeço o mundo."

Sophia de Mello Breyner Andresen

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